A figura do síndico começa a dar lugar a gerentes prediais, com funções que vão além de administrar contas e apaziguar brigas entre vizinhos.
Com a crescente construção de condomínios horizontais e verticais em Londrina, o gerente predial é uma das profissões que ganha cada vez mais destaque, devido à ampliação da área de atuação. Em cidades como São Paulo, a atividade já faz parte do dia-a-dia dos chamados “condomínios-clube” – como são conhecidos os complexos que unem moradia e lazer. Em Londrina, o profissional ainda é chamado de síndico e cursos de especialização são oferecidos principalmente pelo Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR).
Com cerca de 7 mil funcionários, carteira de 1,2 mil condomínios, sendo 90% residenciais, a administradora Lello (com sede na capital paulista) é uma das principais empregadoras no País e aponta que os salários dos gerentes prediais que atuam em condomínios residenciais podem chegar a R$ 3 mil por mês, dependendo da complexidade do empreendimento.
Com a oportunidade da especialização, o síndico passa a ser um profissional especializado em gerenciar não apenas as contas e rusgas entre moradores, mas também a gestão dos diferentes serviços do empreendimento colocados à disposição dos condôminos. Assim, áreas de uso coletivo, como o espaço gourmet, a academia, o spa e o home theater podem ser administrados exclusivamente por um gerente predial.
Em Londrina, a profissionalização de síndicos, bem como a abertura do mercado para esse novo profissional, tem avançado e vem abrindo novos nichos de atuação para quem tem disposição e, principalmente, capacidade de administração social bem desenvolvida e treinada. Desde 2002, com a publicação do Novo Código Civil, qualquer pessoa pode se candidatar a síndico, mesmo que não seja morador ou proprietário de um imóvel no condomínio. “Basta que ela seja eleita na assembleia realizada pelos moradores”, lembra a coordenadora do Secovi-PR, Marla Cristian Joaquin. ”Nós ainda não dispomos de uma profissionalização específica para o ramo de atuação, mas ofertamos vários cursos aos interessados em trabalhar na área, além de reciclagem e alternativas de gestão para aqueles que já atuam”, aponta.
De acordo com o delegado do Secovi-PR, Nestor Dias Correia, um bom síndico ou gerente predial tem como principais características a humildade, a eficiência em gestão física e social, além da paciência. “O síndico deve ser um cidadão muito bem preparado, tanto em lidar com os mais diversos tipos de pessoas como das questões legais da atividade.”
Para o diretor de Condomínios do Secovi-PR, Arthur Harbs, a “bíblia” de um bom síndico é o Novo Código Civil, principalmente o artigo 1.348 que trata das funções e deveres de um síndico. ”É preciso conhecer muito bem os deveres do cargo porque só assim a pessoa estará apta a exercer as funções que lhe cabem da forma mais próxima possível do ideal”, afirma.
Profissionalização diminui desconfiança
Além de estar à frente da diretoria de Condomínios do Secovi-PR em Londrina, Arthur Harbs é também síndico há mais de oito anos. Se for computado o tempo em que a mulher foi síndica, a experiência pula para mais de 15 anos no cargo. ”O parceiro do síndico deve ter a consciência de que vai gerenciar com ele. Porque as cobranças e as soluções de problemas também chegarão até o cônjuge”, aponta o diretor, que é síndico de sete complexos condominiais. Ele mora em um deles e recebe um salário fixado em assembleia para responder pelo cargo em todos os complexos.
Síndico por escolha, Arthur Harbs é defensor da profissionalização do cargo. Para ele, com essa possibilidade, o síndico passa a ser um gestor mais específico, com horários bem definidos de trabalho e, principalmente, imparcialidade na relação com os moradores. “Por ser uma pessoa de fora, o síndico evita acusações de proteção a determinadas atitudes de alguns moradores ou pode evitar o trabalho em tempo integral, com o interfone tocando por qualquer problema que poderia ser resolvido sem a intervenção de terceiros”, destaca.
Ainda segundo Harbs, a prática, adotada em alguns locais, em que o síndico não paga o condomínio, não é recomendável. “Porque assim o síndico abre o precedente para que os moradores digam que ele não tem interesse em diminuir o valor do condomínio só porque ele não paga”, afirma o diretor. “A verdade é que com muita parcimônia, informação, clareza na hora de prestar contas, paciência e um toque de psicologia, qualquer um pode ser um bom síndico e, principalmente, sobreviver ao cargo”, brinca. (L.B.)
Síndico se assemelha a prefeito
Dentre todas as atividades que cabem ao síndico de um condomínio realizar, cobrar taxas atrasadas é a pior, de acordo com Arthur Harbs. “Cobrar é ruim em qualquer situação. É pior do que intermediar conflitos entre condôminos.” Para ele, o papel de um síndico é parecido com o de um prefeito, porque implica resolver os problemas dos moradores, prestar contas e ainda apresentar e impor alternativas que vão interferir diretamente no patrimônio e na vida das pessoas.
De acordo com Harbs, mais do que burocrática, a atividade de um síndico deve ser política. “Tem que gostar de lidar com pessoas e estar disposto a intermediar desde reclamações de moradores que acham a descarga do vizinho muito alta ao pagamento de todas as despesas do condomínio. Além disso, em todos esses anos eu só recebi um elogio pelo trabalho. E foi de um ex-síndico.”
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