Os fundos de investimento são a aplicação mais importante do país, e possuem cerca de 1,2 trilhão de reais em patrimônio no fim de junho. Tanta relevância não ocorreu por acaso. Com o fim da inflação, em 1994, os fundos receberam um enorme incentivo do governo para elevarem seu patrimônio.
Explicando: naquela época, quando a inflação baixou, os investidores começaram a fazer contas com mais cuidado. As empresas, ainda pouco alavancadas, possuíam importantes reservas de capital na forma de dinheiro. Esses recursos eram investidos no mercado financeiro, especialmente em Certificados de Depósito Bancário (CDB), renováveis a cada 30 dias.
A cada renovação, o dinheiro passava pela conta-corrente da empresa, e pagava 0,38% de Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Em um ano, essa movimentação custaria 4,56% do capital investido pela empresa, sem contar os outros impostos.
O desagrado dos executivos financeiros foi geral e os bancos reagiram rapidamente, criando uma miríade de fundos de renda fixa destinados às empresas. As taxas de administração eram mínimas, e não havia o pedágio da CPMF. Com isso, o dinheiro aplicado em CDB migrou quase que totalmente para fundos, que se tornaram a principal aplicação.
Passados quase 15 anos, o cenário tributário mudou. A CPMF não existe mais, e vai ser difícil criá-la novamente. A tributação para CDB e fundos é a mesma. Por isso os fundos estão em desvantagem, especialmente para quem tem mais dinheiro.
Explicando: um fundo é um condomínio. Funciona como um edifício de apartamentos, em que os moradores chamam-se cotistas. Eles pagam um administrador profissional para tomar as decisões de investimento e pagam uma tarifa por esse serviço, chamada de taxa de administração. É um percentual sobre o patrimônio, que sai do bolso do investidor qualquer que seja o desempenho do fundo.
Por menor que seja, essa taxa representa um custo adicional que reduz as vantagens do fundo em relação aos CDB. Suponha que você pode investir em um CDB de um bom banco ganhando 101% dos juros de mercado. Se o fundo em que você investe conseguir aplicar todo o dinheiro do seu patrimônio obtendo esse percentual, ainda assim você terá menos de 101%, pois terá de pagar a taxa de administração.
Quando os juros eram altos e o crédito era escasso, os bancos não precisavam muito de dinheiro e pagavam pouco pelos CDB. Da mesma forma, a taxa de administração dos fundos não fazia muita diferença para o investidor.
Hoje, ao contrário, os juros são baixos e o crédito é abundante, o que eleva as necessidades de capital dos bancos. Assim, eles pagam mais caro pelos CDB. Além disso, como a rentabilidade é menor, qualquer fração de ponto percentual cobrado na forma de taxas de administração faz diferença no fim do mês.
Moral da história: hoje, ao aplicar na renda fixa, compare a rentabilidade líquida do fundo (isto é, descontada a taxa de administração) com a taxa oferecida pelo banco para CDBs de prazo longo (mais de dois anos) com liquidez após 30, 60, 90 ou 180 dias, dependendo de sua necessidade de caixa. Na ponta do lápis, vale mais a pena aplicar em um CDB do que em fundo que cobra, digamos, 1% ao ano de taxa de administração.
No capítulo de amanhã, veremos quais os cuidados a serem tomados nas aplicações de títulos de renda fixa.
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